Outro dia encontrei uma amiga que há muito tempo não via. As primeiras palavras delas foram: Poxa, keka, como você está linda, está mais magra! Cai na gargalhada e respondi: Não, Lú, estou menos gorda, porque quem é gordo não fica mais magro e sim menos gordo.
Ela quis se justificar achando que havia me magoado, mas expliquei que tenho isso muito bem resolvido dentro de mim e que ela não me achou mais bonita por eu ter eliminado algumas das minhas fartas dobrinhas, e sim porque eu mudei para muito melhor a forma como encarar a vida.
A Lú é uma mulher muito bonita, mais ou menos da minha idade, casada desde os 22 anos, tem uma carreira legal, e não tem filhos. Fiquei olhando para ela e mesmo a achando linda, com seus cabelos castanhos cacheados, havia algo que ofuscava o brilho daquele sorriso.
Sempre achei estranho o fato dela não ter tido filhos, já que desde a nossa infância seu sonho era ser mãe. Então, nesse papo de reencontro, descobri o porquê ela aparentava conservar o mesmo corpo de quando tinha seus 18 anos: o marido nunca aceitou que ela engravidasse, pois na cabeça doentia dele aquele corpão de parar o trânsito iria virar, literalmente, um bucho. Além de controlar o peso dela 48 horas por dia, ele não se importa que ela gastasse rios de dinheiro em clinicas de estética, afinal, assim penso eu, ela é para ele um troféu (acho que estou odiando ele).
Relembramos a nossa adolescência agitadíssima e cheia de sonhos, quando saíamos para as baladas apenas com o intuito de nos divertirmos, dançar, rir, paquerar, mas sem neuras de segundas, terceiras, quartas ou quintas intenções. Naquela época, o relógio marcava as mesmas exatas 24 horas, porém não havia a urgência que sentimos nos dias de hoje. A leveza com que lidávamos com nossas perdas e ganhos era algo fantástico. Chorávamos, ríamos, apaixonávamos em um dia para desapaixonarmos no outro, e mesmo não possuindo idade para sermos totalmente responsáveis pelas nossas vidas, nós deixávamos nossos sonhos nos conduzir.
Na medida em que relatava sua saga matrimonial, ela passou a representar para mim as milhares de mulheres que deixam suas vidas de lado para servir de figurante na vida dos seus companheiros (que de companheiro não tem nada). Vivem à sombra do que convém a eles, dizendo sim ao que desejam e não para si mesmas. Criando dentro de si mesmas um repositório de tristezas que somatiza e causa diversas doenças, como por exemplo, o câncer. Em alguns casos, companheiros com pensamentos tão egoístas, abandonam o seu troféu, quando percebem que os lindos cabelos sedosos estão caindo por causa da quimioterapia.
Ninguém está imune de ter qualquer tipo de doença, mas que venha de forma natural e não pela amargura, pelo desencanto e pela falta da vida que deixamos alguém nos roubar. Relacionamento é troca de fluídos, de amor, de compreensão, de alegrias, de conquistas e às vezes até de ofensas, mas é troca. Eu dôo e você me doa, e juntos a gente constrói.
Dizem que para cada pé calejado existe um sapato velho. Pois que o meu me calce muito bem, sem me apertar, sem querer conter meus passos, que queira caminhar comigo por pedregulhos e pelas areias macias da praia, pois se não for assim, retiro o sapato e o deixo de lado para caminhar descalça, na certeza de que qualquer ferida que me marque a vida foi por única e exclusiva vontade minha.
Paulistana, criadora do Blog Mulherão. Jornalista, escritora, cronista, consultora de moda, modelo plus size, empresária, assessora para assuntos aleatórios, mulher com “m” maiúsculo, viciada em temas pertinentes ao universo feminino. Há um bom tempo gorda. Quase sem neuras. Eu disse quase, não se iludam!
Quer trocar relatos de experiências sexuais e tirar dúvidas com outras mulheres gordas? Entre no GRUPO SECRETO DO MULHERÃO, no Facebook, com entrada permitida apenas para mulheres: Clique aqui para acessar