27/04/2011 Bullying e Preconceito

As ex-gordas que odeiam gordas

 

Esta sou eu, gorda, em uma campanha para a Duloren

Certa vez uma jornalista me perguntou o porquê de toda gorda ser boazinha e simpática. Isso me intrigou. Realmente são pouquíssimas as gordinhas que conheci ao longo de minha vida que não se apresentavam, num primeiro momento, como pessoas adoráveis e gentis. Com a convivência fui percebendo que muitas delas realmente eram pessoas do bem, outras escondiam atrás de seus doces sorrisos a falta de caráter, a maldade etc.

Li alguns artigos dizendo que a maioria de nós, mulheres acima do peso, aprende a ser mais agradável, mais simpática, até como uma forma de chamar atenção e para se sentir “aceita” pela sociedade. Uma jovem gostosona, mesmo que intragável, nem sempre deixa de ser convidada para uma festa. Todos acabam tolerando a sua falta de carisma, afinal, aos olhos de jovens que prezam pelo culto ao corpo perfeito, um corpão escultural sacolejando pelo salão é muito mais valioso do que uma alma nobre sentada em uma cadeira. Então, para a gordinha ser notada em uma sociedade preconceituosa, tem que ser sempre a mais legal, a mais divertida, a mais paciente, a mais educada e por aí vai.

E quem a gordinha é de verdade?

 Com a proliferação de cirurgias para redução de estômago, uma nova geração de ex-gordas está surgindo. Não sou contra quem opere o estômago para emagrecer, muito pelo contrário. Acho que todas nós devemos nos utilizar de reeducação alimentar, dietas rígidas ou intervenções cirúrgicas, caso o nosso excesso de peso esteja colocando em risco a nossa saúde.

Entretanto, o que tenho acompanhando, é que algumas pessoas reduzem o estômago e esquecem de seu passado gordo. Passam a punir e perseguir os outros gordos, como se jamais tivessem passado por essa condição.

 Esta semana tive acesso a um texto de Danuzza, uma famosa blogueira que, inclusive, atua em uma empresa chamada Groupália, um site de compras coletivas por quem algumas de nós, mulherões, somos apaixonadas. Vejam o texto:

“De coração, eu DUVIDO que quem se diz o rei ou rainha da autoestima, mesmo sendo gordo, não fica puto por não caber em cadeiras, não conseguir trepar direito, não ter roupas legais, não ser alvo de olhares maldosos e piedosos, ser motivo de preconceito, chacota, xingamento… Ninguém no mundo quer ser ridicularizado.

Não me venham com esse papo de “eu me aceito, gostam de mim assim” é, gostam… Tá bom… Gostam de vc mas o emprego é de outro, gostam de vc, mas não te comem, gostam de vc mas geral tá cagando qdo vc chora sozinho e pragueja esse mundo, essa sociedade, esse maldito padrão de beleza enquanto enche o rabo de brigadeiro.

Convite pra praia ou festa… Vai falar que é sossegado?! Não é. Bom, pelo menos pra quem tem noção do ridículo né?! Já viu cada vestido lindo de festa pra quem estoura a balança?! Me poupem. Eu nunca me acostumaria com essa merda.

Eu ainda não sou a rainha da autoestima nem estou confortável dentro da curva de normalidade, mas estou tão bem que qro mostrar que é fácil sair dessa vida vazia e cheia de comida e de sair desse ciclo babaca e deprê para viver melhor. E não digo só de saúde. É se olhar no espelho e dizer a plenos pulmões: “Tô gata pra caraleo!”

E não me venham com esse papo de “tô gorda mas meu marido me come” Ah sim, ele te come… mas come outras tbm. Certeza.

“Ah, mas gordinhos (ahn?!) são bonitos e simpáticos.” Caraleo… Faustão é lindo e mega simpático!
Não fode, saca?! Hipocrisia infernal. Se gordura fosse sinônimo de beleza, desfilariam de lingerie e asas mulheres com manequim acima de 44…

Sério, me arrepia ver a galera explodindo e geral batendo palma… E dá-lhe checkin no Outback…

Portanto sim, quero estar bem dentro e encaixadinha dentro da curva. Me sinto bem assim. Lá é lindo e não pulam gordurinhas pra fora do jeans.

Agora… Se você levanta a bandeira contrária, boa sorte com a sua militância e seu big mac. E esconda essa merda de braço gordo que ninguém é obrigado a ver vc se deformando…”

Quando li este texto da Danuzza fiquei chocada. Primeiro porque ela trabalha em um lugar que lida com público. E como discriminar parte do grupo para quem você vende seus produtos? Depois, pela forma grosseira como falou. Acho que todo mundo tem o direito de não gostar de gordo, argentino, negro, cadeirante, nordestino, baixinhos…. Mas manifestar desta forma, com tanta agressividade, soa como uma violência sem tamanho. Prontamente fui me manifestar no twitter e ela justificou sua indelicadeza em seu blog, com um novo texto,  o 38. Leiam:

não é calibre
São quilos

Eu não ia falar nada da minha condição aqui
mas como fui muitíssimo mal interpretada por mtos, lá vai

minha vida era mto boa qdo eu pesava 60kg
aí, merdas aconteceram, fiquei triste
e me descompensou

fui me compensar na comida
qdo dei por mim, estava com 38kg a mais
isso em 1 ano

um choque!
um dia, uma pessoa mto querida
disse q meu braço estava deformado
de tão gorda q eu estava

em outra ocasião
uma outra pessoa
deu dois tapinhas na minha coxa e disse
“tá presuntosa. vc está horrível”

na verdade, eu não vi aquilo acontecer
e depois de esbravejar e ficar puta
como mtos aqui ficaram
eu me olhei de corpo inteiro
e chorei a minha vida

comecei a fazer um regime
que todos que me cercam acompanharam
resultado zero

sofriam comigo, me davam forças
e nada

fui deixada, humilhada
xingada

passava mal
me faltava o ar, o ânimo
a autoestima

nada me vestia bem, fazer sexo já não era simples
sentia vergonha
me olhavam com desprezo e piedade
pensei em morrer

comecei a fazer exames
saúde perfeita
decidi colocar um ponto final
depois de anfetaminas, vômitos e laxantes

cirurgia

procurei mtos médicos
achei o perfeito pra mim

tudo pronto
data marcada

dor e agonia
1 semana sem trabalhar
30 dias tomando só líquidos
depois acrescenta gelatina
que traz a felicidade de um bolo de chocolate
sucos, leite, agua de coco

tudo mto sofrido
mas foi a minha escolha

cada centavo do meu salário
vai, todo mês
pro pagamento da minha cirurgia

sem saídas, sem troca de carro
preciso estar em paz comigo

hj faz 46 dias
ontem, no 45, postei um texto com coisas q passei
que ofendeu mtas pessoas

definitivamente não foi minha intenção
peço desculpas para todos

hj, após 46 dias
estou mais feliz, me aceitando mais
as pessoas q amo, q convivo e q trabalho
me dão uma força absurda

já se foram 15
faltam mtos

e sei que não é sinônimo de felicidade
mas eu fico em paz comigo

repito
não quis ser agressiva
apenas relatei o que passei
gostoso de ouvir?
não
nem um pouco

se eu gostava?
tbm não

vc se aceita?!
parabéns. (sem ironia)
eu nunca

não é calibre
são quilos

não é cirurgia de vesícula
é redução de estômago

P.S.: falaram tanto em ajudar… fui ajudada por mta gente sensacional antes e agora. minhas amigas reduzidas. qro fazer o mesmo por quem tem a mesma vontade que nós. quem quer comer até morrer, sorry. não posso fazer nada.

 Pronto! Aumentou a minha indignação. A pessoa que tanto falou mal de gordo é uma ex-gorda e há apenas 45 dias. Como pode? Para mim, Danuzza justificou que escreveu o primeiro texto em terceira pessoa e que talvez este tenha sido o seu erro. Se ela realmente tivesse certeza de seu equívoco e indelicadeza, porque fecharia esta retratação com a seguinte frase: “quem quer comer até morrer, sorry. não posso fazer nada”.

 Não dá para aceitar este tipo de conduta. Eu poderia ser tão preconceituosa quanto Danuzza e dizer que ela é uma covarde, preguiçosa e acomodada que escolheu o caminho mais curto para emagrecer, que se fosse uma mulher decidida e forte como tenta transparecer teria feito uma reeducação alimentar, lenta, mas eficaz tão quanto. Mas não fiz isso em nome de minhas amigas gastoplastizadas que são do bem. Que fizeram a redução, mas continuam tratando pessoas diferentes com dignidade.  Também poderia mostrar para Danuzza dezenas de exemplos de amigas que fizeram redução de estomago e que engordaram tudo novamente, após 6 anos. Mas isso seria desejar seu mal, e de mal dentro dela já há bastante.

 Lembrei do exemplo de uma amiga próxima. Seu ex-namorado namorava uma gordinha, que fez redução, ficou se sentindo a última bolacha do pacote e logo em seguida perdeu o namorado, que agora namora minha amiga gordinha. A tal garota achava que seu relacionamento seria eterno, mas não. Perdeu o bofe para alguém, agora, quilos e quilos mais gorda do que ela. Há mais de 2 anos a ex-gorda persegue minha amiga e posta comentários ofensivos em suas redes sociais, esquecendo que um dia (não, não, por 30 anos) foi gorda também. Como não quero ser processada, não vou dizer que esta menina chama Carol. Juro que não! rsrsrs

Não sou psicóloga, mas creio que exemplos como esse não são traduzem pessoas que mudaram de personalidade ao emagrecer. Esse tipo de gente sempre foi assim: cruel, narcisista, preconceituoso… Só não tinha coragem de exaltar esse lado sujo e ficavam escondidas por trás de quilos e quilos de peso e falsa ternura.

Desculpem este meu desabafo. Sei que este blog não é um local apenas para lamúrias e prometo postar muitas dicas legais de moda, porque ao contrário do que a Danuzza e a Carol pensam podemos sim ser charmosas e poderosas com alguns ou muitos quilos a mais.

 E para completar, deixo meu singelo recado para Danuzza, da mesma forma super “fina” como ela escreve: 

“Minha bunda ainda cabe na cadeira, trepo maravilhosamente bem, sou super fashion e ninguém me ofende ou me humilha, porque sou um mulherão.!”

Os textos da Danuzza foram extraídos daqui.

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