Por Renata Poskus Vaz
No último Dia de Modelo conheci uma leitora muito especial e com quem me identifiquei muito. Talvez seja pelo fato dela, assim como eu, ser apaixonada por dança. Carol é uma mulher iluminada, bem resolvida e muitíssimo bem amada. Pedi que ela contasse um pouco da história dela para vocês. Segue o depoimento da Carol:
“Ninguém acorda uma bela manhã manequim 52, isso não acontece da noite para o dia. Engordar sempre faz parte de um processo, porém se aceitar assim é um processo muito maior e mais gratificante.
Desde sempre lembro de estar acima do peso, das pessoas falando que eu era gordinha, fofinha. Chamavam-me de vitamina, proteína, a mais gordinha da família e meu pai deixava isso claro me apelidando carinhosamente de “ baconzitos” e Miss Pig. Cresci e a insegurança também. Até os 18 anos nunca tinha namorado e era tímida, do tipo que “fica perdida mas não pede informação”.
Cansada de esperar tudo mudar sem fazer nada, decidi ir atrás do que eu gostava. Larguei o magistério e fui dançar e estudar teatro, pra espanto de todos ao meu redor. Participei de uma oficina de dança contemporânea com o melhor bailarino e ser humano que conheci neste meio, o Sandro Borelli, que tinha como princípio que a dança é uma arte de movimentos que qualquer corpo disposto a isso realiza. Foi o primeiro passo para a minha aceitação!
Nesta mesma época entrei para um grupo de teatro, emagreci – eu, na minha fase mais magra alcancei, no máximo, o manequim 42 – e me percebi como pessoa e mulher, mas num meio muito cruel que é o das artesem geral. Vireia “gostosona” e descobri o lado B do que eu tanto gostava, porém apreendi a ter jogo de cintura, sair dos testes do sofá e a ter classe lidando com todo tipo de gente. Tudo dando certo, me profissionalizei na área do teatro e da dança, me especializei na cultura cigana e no trabalho com o feminino, o corpo e a aceitação do mesmo.
Em 2004 conheci meu atual marido, em 2006 engravidei e tive o melhor presente da minha vida. Descobri o que era amor de verdade, amor de mãe. Mas como nem tudo são flores, engordei 22 quilos na gravidez e logo após o parto precisei de remédios fortes e além de dores tive que encarar um total de 50 quilos a mais num corpinho que já não era tão “inho”. O pior de tudo não foi a doença, nem o tratamento, foi a reação das pessoas !
Eu praticamente fui apagada do meio, sempre que encontrava alguém era uma cara de espanto seguida de “nossaaaa como você tá diferente !!!” e eu sabia que não era pra melhor. Isso foi acabando comigo. Não pude mais dançar (evento gorda, nem pensar). Resolvi estudar, fui cursar fisioterapia, encontrei mais preconceitos e depois de 3 anos precisei de ajuda. Não tinha como negar, mas isso tudo estava acabando comigo. Eu estava me largando, só tinha vontade de chorar até o mundo acabar e depois de um assalto (que foi só a gota dágua) me peguei com pânico das pessoas e de sair na rua.
De médico em médico a indicação de todos era a cirurgia bariátrica para os meus 126 quilos da época. No final do processo para a cirurgia, com exames prontos e etc, resolvi que iria tentar de novo. Achar gente muito feliz depois deste procedimento seriíssimo que é a cirurgia é fácil, mas fui atrás de quem estava mal por ter dado errado e os casos eram muitos e chocantes. Não queria aquilo pra mim, não valia a pena arriscar perder a saúde só por causa da pressão do mundo em prol da magreza. Era um tal de tô sem força muscular, não consigo andar, com problema disso e daquilo, precisando de ajuda para as atividades diárias, mas valeu a pena porque estou magra. É um absurdooo. Depois de achar um médico psiquiatra muito fofo combinamos um tratamento alternativo e abdiquei da cirurgia, comecei a emagrecer com toda a calma do mundo, voltei a dançar e levei a sério os convites para trabalhos como modelo pluz size.
Neste processo precisava de um lembrete visual, tipo esses que a gente cola na mesa de trabalho ou na porta da geladeira. Então, encarei uma mudança radical com meu cabelo, passei máquina dois e me surpreendi quando me senti linda mesmo careca e acima do peso. Fui obrigada a olhar além do rosto e do cabelão (foco de toda gordinha em fotos) e me vi como um todo: uma mulher feminina, forte e poderosa mesmo sem as longas madeixas.
Foi neste momento, onde consegui dar a volta por cima e me amar além de qualquer pressão externa, que me descobri um mulherão de verdade. Mulherão de carne, curvas, osso, muita sabedoria e amor próprio.”
Veja o ensaio fotográfico que a Carol fez durante o último Dia de Modelo Plus Size:
Fotos realizadas no Dia de Modelo Plus Size. Fotógrafo: Hilton Costa. Make: Jovianny Sierascky. Cabelo: David Oliveira. Produção: Barbara Poskus, Nathy Arias, Fê Avila e Mayara Russi. Direção: Renata Poskus Vaz.
Paulistana, criadora do Blog Mulherão. Jornalista, escritora, cronista, consultora de moda, modelo plus size, empresária, assessora para assuntos aleatórios, mulher com “m” maiúsculo, viciada em temas pertinentes ao universo feminino. Há um bom tempo gorda. Quase sem neuras. Eu disse quase, não se iludam!
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