03/07/2013 Moda

A magreza desrespeitosa das grifes mineiras plus size

Por Renata Poskus Vaz

Antigamente, a moda mineira era conhecida como a melhor moda do País. Estou falando da moda de uma maneira geral, não especificamente a plus size. Gente de todo o Brasil saía de suas cidades para fazer compras para suas lojas em Minas Gerais, sobretudo na região de Belo Horizonte. São Paulo sempre foi conhecida como o destino das roupas baratas e diversificadas, mas Minas gerais era sinônimo de qualidade. A mesma blusinha de malha que você pagava no máximo R$50 no Bom Retiro, custava R$100 em Minas Gerais. Mas a de São Paulo durava 1 ano, enquanto a de Minas no mínimo 5. Outro destaque era o acabamento, sempre bem feito, além de muitas aplicações. Mineira não gosta de coisa básica, desta forma, mesmo a roupa mais simpleszinha tinha um ar de roupa chique. 

Neste mercado mineiro, surgiram dezenas de confecções plus size. A maioria trabalha com grade que começa no manequim 42 e vai até o 52, 54. Todas com modelagens generosas. A grife pega um manequim 44, mas coloca uma etiqueta 42. Então, a gordinha entra na loja, veste a roupa com manequim menor e vê que cabe nela, fica feliz e leva logo para casa. Estratégia de marketing que dá certo. Desta forma, com produtos baratos, modelagens amplas e muita qualidade, há décadas existem dezenas de confecções plus size em Minas Gerais. Sim, há décadas. Você sabia?

Grifes Mineiras omitem que fabricam roupa plus size

Ok, você vai me dizer que não sabia disso, que desconhecia que existem tantas grifes plus size mineiras e há tanto tempo. E eu compreendo. Afinal, nos catálogos dessas grifes, eles usam modelos muito magras. E quando eu digo magra, é magra mesmo. É normal que uma modelo plus size tenha pouco busto, ou que tenha perna fina, ou um quadril mais estreito, ou um braço bem esguio, ou pouca barriga, mas ela não é uma modelo plus size se reunir todas essas características! E, quando vejo isso, confesso, me sinto, como consumidora, desrespeitada.

Estive, há uns dois anos em Belo Horizonte, conversando com a gerente de marketing da Marcia Morais, que se mostrou receptiva em conhecer mais profundamente o mercado plus size. Gentilmente, ela marcou uma reunião para que eu conversasse com um grupo de proprietárias de grifes plus size mineiras. E sabe quantas delas foram na reunião? Só a gerente da Marcia Morais. Isso mesmo! Apenas ela. Também já mandei diversos e-mails para essas marcas, nenhum respondido.

Não sei o porquê dessas marcas esconderem que fabricam para mulheres com medidas generosas. Acredito que se deva ao preconceito de pensar que as consumidoras querem se enxergar em um corpo magro. Mal sabem eles que a maioria de nós não quer mais viver de sonhos.

Em 2 anos, o progresso que vi na Marcia Morais foi a encorporação à logomarca da expressão: “plus size”, de forma tímida, bem pequenininha. Porém, a modelo da Marcia Morais, ainda precisa de muitos potes de Nutella para ser plus size. Veja só:

Marcia Morais plus size

O lookbook/catálogo que mais me chocou entre todas as grifes plus size mineiras foi o da Desireè. Não tem nem como a marca dizer que essa modelo da foto usa o menor manequim que ela diz vender, o 42. Não dá! Dói ver essa modelo da foto. Poderiam ter fotografado em um manequim gordinho de plástico. Eu não sei como os lojistas não se recusam a comprar essas roupas. Como saber o real caimento da roupa em uma mulher plus size sem ver como ela fica em uma mulher com curvas?

Desiree plus size

E não pára por aí. Juntando o peso as duas modelos da marca Ligia Nogueira, deve totalizar 90 Kg, o que eu peso. Tristeza de vida! A marca também fabrica do 42 ao 52.

Ligia Nogueira 2

Esta, abaixo, é uma campanha da Ligia Nogueira, mais antiga, que também choca pela magreza que nada combina com grife plus size:

Ligia Nogueira plus size

Outra marca plus size de Minas Gerais, Belle Carole, fabrica do 42 ao 54. Ela já havia usado modelos mais curvilíneas em seu catálogo, como a  Top Silvia Neves, mas parece ter regredido e contratado a modelo abaixo, igualmente linda, mas muito magrinha:

belle carole 2

E para completar a Diles.

Diles plus size

Como está a moda mineira hoje 

Hoje em dia, as confecções de outras regiões trabalham com representantes em todo o Brasil. Isso é, o cliente, lojista, pode receber representantes das marcas em sua loja. Ou então, ele pode comprar no atacado pela internet. Desta forma, aquelas excursões de lojistas para Belo Horizonte, que deixavam as confecções plus size de lá com sorriso de orelha a orelha, já não são tão constantes e rentáveis. Diversas confecções de Santa Catarina, Paraná e São Paulo passaram a produzir moda com mais qualidade e melhor acabamento, desta forma, a moda mineira continua excelente, mas deixou de ser líder absoluta do mercado.

Como consumidora, eu diria para as marcas mineiras:

“Nós, mulheres plus size, não esperamos que vocês coloquem uma modelo manequim 60 em seus catálogos. Mas também não vemos com bons olhos modelos manequim 38. Não rejeitamos marcas que usam marcas plus size em seus catálogos. Muito pelo contrário, nos enxergamos e as recomendamos para as boutiques em que fazemos compras”.

*****

Amanhã vou mostrar umas marcas mineiras que nos amam do jeitinho que a gente é.

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