Por Renata Poskus Vaz
Escrevi dezenas de rascunhos na tentativa de produzir um texto jornalístico, sério e em terceira pessoa sobre um funcionário da agência Upper Model que ofendeu uma modelo plus size via áudio no whatsapp, a xingando, inclusive, de leitoa, gorda e arrombada. Porém, não há como não me envolver, não há como não ficar indignada com o assunto que vou narrar agora. Não há como não me colocar no lugar dessa modelo e sofrer, não tanto quanto ela deve estar sofrendo agora, mas solidária com sua dor.
Recebi de uma modelo plus size muito conhecida, a troca de mensagens com uma booker da agência Upper Model. Nela, a booker oferece a oportunidade de um casting para a modelo. As duas então analisam horários e a disponibilidade da modelo sair de um trabalho diretamente para esse casting. Porém, antes de confirmar a sua ida ao casting, ela pede que lhe passem para que trabalho seria o casting e qual o cachê do trabalho, o que possivelmente revoltou um homem de nome Fabiano que se identificou como diretor.
Detalhes importantes no relacionamento cliente x agência de modelo :
Toda modelo tem o direito de saber para qual casting está sendo encaminhada e qual o cachê ofertado, isso sem contar a comissão que ficará retida pela agência. Por exemplo, quando fiz um trabalho como modelo para a Marisa, por meio da própria Upper Model sob outra direção, me foram esclarecidos todos esses detalhes antes do casting. Toda modelo tem o direito de saber para qual casting está se dirigindo. Não é obrigada a fazer trabalhos para empresas com as quais não se identifica ou concorrentes de empresas para as quais trabalhou recentemente. A modelo também tem o direito de não aceitar fazer trabalhos por cachês baixos ou outras condições abusivas. O diálogo entre modelo e agencia deve estar sempre aberto a esse tipo de questionamento. A agência tem o direito de não querer continuar com uma modelo que questione esse tipo de coisa, mas não tem o direito de ofendê-la ou desmerecê-la.
Voltemos aos fatos…
A booker, que conversava com a modelo, não respondeu os questionamentos sobre qual a empresa e cachê daquele trabalho.
Foi quando o tal Fabiano mandou o seguinte áudio para a modelo (por meio do próprio whatsapp da booker), de forma ríspida (e novamente sem esclarecer qual o cachê e o cliente) dizendo que se ela não quiser tem outra modelo na fila:
A modelo, então, igualmente nervosa, responde que sem saber o valor do cachê ou qual o cliente, que não queria e que ele poderia passar o trabalho para outra.
Não gostando da resposta dela, o homem que se identificou como diretor diz que não queria pessoas com o nível dela na agência. Ela, por sua vez, diz que não trabalha com agências bostinha. Quem, em sã consciência gostaria de ter seu nível questionado desta forma?
Então, ela bloqueou o número em seu whatsapp e por outro número recebeu a seguinte mensagem do Fabiano, a chamando de leitoa, gorda e arrombada.
Não que seja defeito se parecer com um dos animais mais inteligentes do mundo, o porco, nem ser gorda e muito menos arrombada, que deve ter muita história boa pra contar. Mas ninguém tem o direito de chamar uma profisisonal assim. Quando a modelo se referiu à agência como bostinha, estava revidando o fato de ter seu nível questionado pela agência.
Como se não bastasse, reforçou por escrito as ofensas via mensagem pelo Facebook:
Antes de fechar essa matéria…
Antes de fechar essa matéria, entrei em contato com a booker e o Fabiano, pelos mesmos telefones com os quais se comunicaram com a modelo, para que tivessem o direito de resposta. A booker alegou que não ofendeu a modelo, apenas cedeu seu telefone para Fabiano. Já Fabiano alegou ter sido ofendido primeiramente pela modelo. Quando tentei explicar que eu tinha acesso a todos os áudios e prints, ele me interrompeu. Pedi que me ouvisse e ele então, disse que não era obrigado a me ouvir. Com medo de também ser chamada de leitoa e arrombada, desliguei.
Já a modelo reafirma que em momento algum recebeu informações sobre o casting e que só gravou o áudio ríspida pois se sentiu tratada com arrogância, como se não fosse obrigação dele em lhe repassar as informações sobre o casting. No mais, concluiu dizendo que não precisava omitir sua foto ou identidade nesta matéria, pois quem já contratou seu trabalho como modelo, sabe de sua dedicação e profissionalismo. E que embora tenha temido que ele cumprisse a promessa de colocá-la em uma lista negra aqui em São Paulo, que decidiu tornar público o fato para inibir que outras mulheres passem por isso.
Fico muito, muito, muito triste com isso. Gente que lucra com trabalho de modelo plus size, com essa visão.
Update: Em matéria sobre este caso publicada no UOL, hoje (17/11), Rodrigo Thiré, o verdadeiro diretor da Upper Model Management, falou ao UOL que a postura do fotógrafo não condiz com o tipo de serviço oferecido pela agência. “Ele não é uma pessoa responsável por nada neste departamento [de casting]. Ele estava prestando um serviço para nós, mas pegou o celular da booker e começou esta história completamente errada”.
O executivo disse que Fabiano será desligado da empresa. “No momento ele está desaparecido, a gente não consegue falar com ele”, pontua. Procurado pela reportagem, o profissional não foi encontrado. Porém, antes identificado como o responsável pelo marketing da agência, Fabiano teve seu nome apagado do site da Upper Model Management.
Alessandra diz que Rodrigo já entrou em contato com ela e explicou que Fabiano não representa a Upper Model Management. “Ele me ligou pedindo mil desculpas. Agradeço muito pela atenção”, elogia. Ainda assim, a modelo, que atua no mercado há oito anos, pretende processar Fabiano Herrera pelas ofensas. “Estou falando com a minha advogada. O boletim de ocorrência pelo menos eu quero fazer”, explica.
Leia a matéria completa no UOL, clicando aqui.
Paulistana, criadora do Blog Mulherão. Jornalista, escritora, cronista, consultora de moda, modelo plus size, empresária, assessora para assuntos aleatórios, mulher com “m” maiúsculo, viciada em temas pertinentes ao universo feminino. Há um bom tempo gorda. Quase sem neuras. Eu disse quase, não se iludam!
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