Certa noite eu estava, para variar, lendo em meu quarto quando minha querida madrasta Delfina, mais conhecida como “madras”, entrou empolgadíssima falando num tal “Blog Mulherão” que ela acabara de conhecer através de uma matéria publicada no jornal O Estado de São Paulo… Falou, falou, falou. Descreveu-me o que havia lido para finalizar com: “- você tem que participar do Dia de Modelo “.
Eu, como boa cricri que sou, sentada ao lado da minha baixo autoestima, mais que isso, cultivando minha falta de autoestima. Plantão que venho regando, desde que perdi minha mãe e deixei de ser a “mulata sarada”. Logicamente ri, pois sou uma verdadeira palhaça, mas retruquei com um: “Eu? Tirando fotos? Dia de Modelo? Jamais darei motivos para que riam de mim.”
Madras, sabiamente, se deu por vencida. Mal sabia eu que era momentâneo, pois mais do que depressa, no dia seguinte, havia sobre minha cama não só a matéria, como também o site grifado em tinta verde limão.
Como apesar de adorar regar minha plantinha “vítima do mundo”, sou curiosa, acabei por entrar no site do Blog. Li, reli e decidi me inscrever no Dia de Modelo. Já estava quase esquecendo do assunto quando, para a minha surpresa, tempos depois, abro meu email e vejo nada mais nada menos do que um email da Renata onde me enviava as datas do próximo Dia de Modelo. Não pensei duas vezes, fui lá e confirmei minha participação.
Confesso que a partir daí me empolguei, mas na véspera do dia… Ah, aí bateu um medo, medo tão grande que me fez perder o sono. Quando ainda pensava se deveria ou não entrar nesta de “modelo”, abri meu coração para o meu namorado, que só disse uma coisa: “LÓGICO QUE VOCÊ IRÁ, VOCÊ É LINDA! Odeio você de vítima do mundo, não percebe que isso está acabando com nossa relação? Não quero ao meu lado uma mulherzinha frágil, quero a mulher que conheci, um MULHERÃO!” Por coincidência, neste mesmo dia, recebi o telefonema da Renata, que muito serviu pra me aliviar, me dar uma segurança de que eu não era um ET, nem estava indo para um mundo de ilusões. Ela se deu ao trabalho de ficar quase uma hora comigo me explicando como funcionada tudo, como eu deveria pensar, e que principalmente eu deveria crer em mim e em minha força interior. Foi uma conversa gostosa, como se fossemos amigas.
Até o dia do evento tive o prazer de conhecer algumas meninas, que também estariam lá por troca de emails, uma delas me chamou a atenção em especial, pois após eu ter exposto meu jeito “torto” de encarar e viver a vida, ela simplesmente me mandou um email pessoal tentando fazer eu acordar, me mostrando que o mundo iria bem além do meu quarto. Dizia mais ou menos assim: “Você é engenheira, bonita, pois vi suas fotos, profissional, um mulherão e fica com medinho de sair e dar a cara pra bater. Acorda menina, irei te ensinar a mudar este seu jeito, nem que seja na marra.” Desde então nos descobrimos irmãs de alma! O dia esperado chegou, logo cedo eu já estava arrumada e “madras” já empolgadíssima, afinal havia decidido ir junto. Cheguei toda tímida, mas fantasiada de fortona, de brava. rsrsrs
Conversei com algumas meninas, me assustei com o jeito “desbocado e autêntico” de uma, me emocionei com a gentileza e delicadeza de outras, ri muito com outras e me diverti com o maquiador. Fui ficando mais tranqüila.
Conheci a Renata, a Andrea e a Nathy, esta última, por sua vez, teve um trabalhão comigo. Desde o primeiro look, tentou me fazer usar acessórios os quais eu achava que destoariam da minha “”personalidade” rs. As fotos começaram, a Andrea me dando dicas, o fotógrafo Hilton com uma paciência de se admirar. Foi a primeira, foi a segunda e eu ainda travada, me sentindo uma ridícula, como sempre. Enfim, a primeira sessão de fotos acabou. Saí do estúdio. Neste meio tempo soube que meu pai havia me ligado e estava bravo, pois não gostava desta “coisa” de eu tirar fotos. Lógico, mesmo sem ele ter qualquer culpa, foi a desculpa que eu precisei para tirar da bolsa a plantinha “vítima do mundo” e começar meu auto-flagelo. Minha cara mudou, fui grosseira com minha madras, muito direta com as meninas, virei uma chata.
Num determinado momento, a Renata me chamou e literalmente me pegou pela alma, “bateu” nela… Jogou em minha cara que eu não me aceitava, que provavelmente não gostaria das fotos depois de prontas, porque apenas ao me ver na frente da câmera, ela percebeu o quanto eu me sentia “menos”, o quanto eu me inferiorizava e o quanto isso estava prejudicando a minha vida, não somente nas fotos, mas minha vida pessoal, como mulher, como ser humano. Foi um baque, mas segurei o tranco. Na hora pensei em como eu que sempre consegui disfarçar tão bem, estava deixando evidente meus sentimentos naquele momento e bateu o orgulho.
Parei de reclamar, baixei a cabeça às palavras dela, que estavam corretíssimas e fui fotografar novamente. Ainda estava travada, mas mais tranquila. Mesmo com cara de brava, acatei as idéias da Andrea que é craque e tem olhar clínico. Na última sessão eu já me sentia quase em casa, e nem notei que estava sendo observada por várias pessoas, coisa que se fosse logo no início, me faria correr dali.
Os dias se passaram, veio o Natal, o Reveillon e eu decidi descer para a praia dia 31, querendo dar um beijo numa amiga e em meu afilhado. Fui feliz, adoro o mar… Para a minha decepção, quando lá cheguei, só ouvi meu afilhado me chamar de gorda, baleia e dizer que eu nem poderia subir numa balança pois ela quebraria, além de ouvir risadinhas mesquinhas de como eu ficaria de maiô ou biquini. Fiquei arrasada por ouvir estas palavras preconceituosas de um menino de 7 anos e por ter certeza que ele estava repetindo o que ouvia da mãe dele, minha suposta amiga. De repente, pode até ser amiga, o problema é ser amiga de mente pequena, de alma restrita.
Pior que ficar arrasada, foi eu ter agido como uma “coitadinha” e permanecido lá, naquela casa que não me fazia bem, perto de pessoas que não dividem pensamentos positivos. Para meu auto-flagelo ser completo, permaneci lá, como um alface, sem expressar meus sentimentos reais e tudo para manter minha postura de educadinha e por respeito, equivocado, pela mãe da amiga citada.
Quando voltei, meu namorado e minha “madras” foram os primeiros a dizer que eu agi mal, que eu tenho dever e direito de lutar por mim, pelos meus ideais, minhas ideias e meus sonhos e que acima de tudo, mereço respeito! Meu namorado finalizou dizendo: “Vi, primeiro dia do ano e você ainda não mudou sua postura, não acha que já passou da hora de deixar de ser vítima do mundo?” Estas palavras doeram, mas ficaram em minha cabeça.
Contudo, dia 04/01/2010, ganhei de presente algumas das fotos que fiz no Dia de Modelo e MEU DEUS, me apaixonei por mim! E a sensação está sendo maravilhosa apesar de um tanto quanto narcisista, confesso, afinal a paixão aumenta a cada segundo. Postei as fotos em meu orkut, o que fez choverem elogios, meus amigos dizendo que eu SOU um mulherão, e mais eu me sentindo, finalmente me vendo como um mulherão.
Quando percebo que começarei a entrar numas de “óh vida óh céus”, olho para uma das fotos e me releio, e novamente me percebo como mulherão que sou.
O último a vê-las por mais engraçado que seja, foi meu namorado. Dele ouvi: “EU DISSE QUE VOCÊ É LINDA, PENA QUE NÃO SE VÊ OU SENTE-SE ASSIM”. Adorei as fotos e acho que deve ir em frente, seguir sua vida, buscar seus sonhos, abraçar a Viviane todos os dias e acariciá-la. Entenda…eu nunca pedi que você mudasse pra mim ou por mim, eu quero que você mude por e pra você, para ser alguém melhor, para crescer como pessoa e como mulher pois não posso entender como você pode ser forte para e pelos outros, mas ser extremamente frágil pra você, no que diz respeito a você”. E isso me deu uma força enorme para mudar, para jogar a plantinha “vítima do mundo” no lixo de vez, inclusive com a raiz, e fazer isso por mim.
Só hoje vejo que eu estava cansada de me ver como patinho feio.
Por isso meninas, meu recado, meu conselho de início de década é que amem se acima de tudo, não permitam serem envolvidas por energias negativas ou por conselhos destrutivos que venham a ouvir, usem saias, calças, decotes, vestidos. Invistam em vocês, se notem e se façam bonitas, lógico, tudo dentro do bom senso. Sejam verdadeiras e sejam belas, belas para vocês mesmas para que assim possam ser belas aos olhos do mundo.
Beijos à todas… Feliz 2010!
Viviane Oliveira
Paulistana, criadora do Blog Mulherão. Jornalista, escritora, cronista, consultora de moda, modelo plus size, empresária, assessora para assuntos aleatórios, mulher com “m” maiúsculo, viciada em temas pertinentes ao universo feminino. Há um bom tempo gorda. Quase sem neuras. Eu disse quase, não se iludam!
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