18/12/2013 Moda

Existe mercado plus size no Rio de Janeiro?

Por Renata Poskus Vaz

Neste fim de semana estive no Rio de Janeiro a trabalho. Aproveitei para curtir com as amigas (sempre analisando o comportamento e perfil das mulheres plus size da região), além de visitar lojas especializadas em moda GG. O Rio de Janeiro tem um cenário plus size curioso, bem diferente do que vivencio em minha cidade, São Paulo.

A característica plus size mais marcante do Rio de Janeiro está em sua distribuição e exposição de gordos pela cidade. Em São Paulo, veem-se gordos por todos os lugares. Isso, teoricamente, poderia soar como se na terra da garoa o número de obesos fosse maior do que na cidade maravilhosa. No entanto, o que observei, é que no Rio de Janeiro as diferenças sociais e segregações são muito mais gritantes do que em minha terra.

Não via gordas na zona sul. Incrível! Apenas mulheres magras caminhavam pra cá e pra lá. Na praia, somente corpos esguios desfilavam nas areias da praia de Ipanema. Qualquer corpo que fugisse do estereótipo de mulher-sarada-bombada ou magrinha quase sempre era de uma turista ou de uma prestadora de serviços, moradora da zona norte do Rio de Janeiro ou da Baixada Fluminense.

Pude conversar sobre esse assunto com Ana Paula, proprietária da Ana Rebello, loja multimarcas localizada em uma movimentada galeria de Ipanema. Segundo Ana Paula, a maioria de suas clientes é formada por mulheres maduras. A loja mudou seu perfil. Deixou de revender minissaias, tomara que caia e investiu em túnicas e batas mais largas e comportadas. Lucro certo. Isso confirma minha teoria de que em alguns lugares, com uma população com renda maior, as mulheres só começam a engordar após a menopausa. Enquanto jovens, elas se rendem às inúmeras dietas, plásticas, exercícios e soluções milagrosas de emagrecimento e negam assumir o título libertador de “plus size”. Vão envelhecendo, sofrendo com a lentidão do metabolismo e engordando. Com a lembrança sempre viva de um corpo magro, elas relutam em usar roupas plus size mais modernas.

Foto de um look da Ana Rebello

Ser gorda na terra da “Garota de Ipanema” pode ser cruel. E, neste cenário, muitas mulheres se trancam em casa, abdicam da praia e do convívio social. Talvez seja por isso que a zona sul do Rio de Janeiro pareça não ter lojas plus size. Essas lojas, na verdade, estão disfarçadas para não afugentar suas clientes.

Lólla: a aposta de Carlota-rio para clientes mais jovens

Uma famosa rede de lojas plus size no Rio de Janeiro é a Carlota-rio, que muito falo aqui no Blog Mulherão. Sempre estranhei os manequins magros nas vitrines das lojas dessa marca. Preconceito por parte da Carlota? Não! Será mesmo que com um manequim rechonchudo na vitrine uma cliente que não se assume gorda teria coragem de entrar e comprar naquela loja? Hoje tenho certeza que não. A carioca da Zona Sul jamais compraria.

Para cativar o público jovem, Carlota criou Lolla, uma marca moderna, com um novo conceito. Algo que em São Paulo poderia ser banal, mas que no Rio de Janeiro, em plena sarada Zona Sul, é um grande investimento e revolução.

Marri Gattô, marca niteroiense, lançou duas coleções inspiradas na garota carioca da Zona Sul, com muita cor, top cropped e minissaias. Porém, saliento que foram coleções inspiradas na garota magra da Zona Sul, pois a garota gorda da Zona Sul parece não existir e se existe está bem escondida. Não existem pontos de venda da marca na Zona Sul do Rio de Janeiro, uma baita incoerência, já que Marri Gattô fez muito sucesso em outros estados, principalmente em São Paulo após os desfiles do Fashion Weekend Plus Size.

Existem ainda uma infinidade de multimarcas nas principais vias de comércio de Ipanema, Copacabana e Botafogo que vendem moda plus size. Mas sempre de forma despretensiosa, longe de assumir ser uma “loja de roupas para gordas”.

Esse comportamento de negação parece ser o oposto no outro lado da cidade. Na Zona Norte, com uma renda mais baixa, as mulheres aparentam ser mais gordas. Essa é uma análise que pode ser aprofundada em outra hora, mas podemos resumir dizendo que 1 Kg de linhaça custa bem mais do que 1 Kg de fubá. Ou que 1 Kg de filé de peixe branco custa bem mais do que carne de segunda custa. Ou seja, para se comer melhor, de forma mais saudável e engordando menos é necessário ter uma renda maior.

O que as “pobretonas” da Zona Norte podem ensinar para as gordas de Ipanema é que assumir sua silhueta pode ser fácil e recompensador. Lá, as propagandas de lojas plus size são mais escancaradas. As clientes são diretas e não querem e nem podem perder tempo na caça às lojas plus size. Um exemplo de comunicação direta é a Loja Glamur Fashion (sim, Glamur sem o “o”), com sua linda modelo Amanda Santana, manequim 50. Roupas grandes, baratas, para mulheres grandes de verdade.

Quando se fala em mercado para modelos plus size no Rio de Janeiro sou bem pessimista. Não há como se trabalhar como modelo plus size onde não há lojas assumidamente plus size. Com essa escassez, algumas meninas da Zona Norte e da Baixada Fluminense se digladiam em busca de uma vaguinha para “look do dia”, atacando, se preciso, a honra de suas concorrentes em busca de um trabalho apenas para acariciar sua autoestima, pois cachê que é bom, esse é para poucas. Poucas mesmo, como as duas figurinhas da Zona Sul: Tatiana Gaião e Jacqueline Chicralla. As demais se contentam com roupas de brindes ou um “muito obrigada”.

Há três agências que trabalham com modelos plus size na região. Uma delas, que se diz a primeira do segmento, vende books, cobras taxas de agenciamento, mas só conseguiu, até hoje, um cliente que empregou duas de suas modelos. As suas outras 30 e tantas modelos agenciadas, pelo que apurei, até o momento, não conseguiram nenhum trabalho remunerado, embora tenham investido em cursos, books etc.

A mulher carioca que deseja trabalhar como modelo plus size deve ter tempo e disposição para viajar em busca do mercado plus size, em Santa Catarina, Fortaleza ou São Paulo.

E você, concorda comigo?

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