27/01/2023 Comportamento

Midsize: inclusão ou maquiagem da exclusão?

Já está bem claro para todas nós que o termo “plus size” quer dizer tamanho grande. Mas um novo termo vem ganhando destaque no mundo da moda: midsize, que por sua vez quer dizer, literalmente, tamanho médio. Midsize seriam os tamanhos que vestem as mulheres que não são nem magras, tampouco gordas.

Para mim, a criação de um novo termo da moda para se referir à uma numeração de manequins é um grande problema, embora travestido de “inclusão”. Na verdade, é um termo para, novamente, dividir mulheres que fogem do padrão das passarelas e para reforçar e legitimizar a exclusão de manequins maiores na cadeia produtiva de determinadas marcas. E vou explicar o porquê. Antes, vamos voltar um pouquinho no tempo.

Plus Size já contempla as Midsize

Em 2009, quando criei o Blog Mulherão, eu pesava 72Kg e usava manequim 44 na parte do busto e 42 no quadril. Eu não encontrava essa numeração em lojas tradicionais. Até poderia encontrar uma peça 42 ou 44, mas que na verdade mal caberiam em um corpo de boneca Barbie. Desta forma, enquanto mulherão, alta, cavalona, me sentia excluída e sempre frustrada para me vestir.

Foi esta dificuldade pessoal que me fez criar este blog e eventos como o Bazar Plus Size do Blog Mulherão e o Fashion Weekend Plus Size. Aliás, até esta época, não se usava o termo “plus size” no Brasil. Aqui, comercialmente, usava-se os termos “tamanhos especiais” e “tamanhos grandes” e fomos nós, primeiras blogueiras e ativistas (sim, desculpem-me pela falta de modéstia), que enfiamos o termo “plus size” goela abaixo do mercado brasileiro.

Funcionou. No fundo, naquela época, e ainda em busca da autoaceitação, tínhamos vergonha de dizer que usávamos roupas de uma loja “especial”. Brasileiro ama estrangeirismo e o tal “plus size” deu um toque de fashionismo, de coisa com classe, chique e diferenciada, que caiu no gosto das gordas brasileiras.

Muitas mulheres, inclusive, não se descreviam como gordas, que era visto como um termo ofensivo, grosseiro. Se descreviam como “mulheres plus size”. Embora plus size se refira a tamanho de roupa e não a tamanho de mulher, a adoção do termo por mulheres para se referirem sobre seus próprios corpos foi uma fase necessária até chegar a empoderada em que vivemos hoje.

Naquele novo mundo plus size brasileiro que se formava há mais de uma década, contemplava-se, também, as mulheres de manequim 42, 44, 46 e por aí em diante.

E, se antes as clientes se sentiam culpadas por serem gordas e aceitavam apenas o que lhes era oferecido, passaram a exigir o que de fato merecem: qualidade de produtos, variedade de modelos e grade ampla.

A principal reinvindicação das consumidoras da moda plus size passou a ser a inclusão de tamanhos para mulheres gordas de verdade. Marcas diziam que vendiam manequim plus size, mas suas grades não passavam do manequim 48 ou 50. Muitas dessas lojas foram bombardeadas e acusadas de terem se aproveitado de um movimento que se tornou midiático e rentável, sem de fato oferecer roupa para mulheres gordas de verdade.

Era mais ou menos assim: “você usa a minha imagem e minha luta para vender,  mas não vende roupa do meu tamanho”.

Então, o que se esperava que essas marcas fizessem? Que ampliassem suas grades, contemplando as consumidoras chamadas de “gordas maiores”, não é mesmo? Mas, não. O que elas fizeram foi criar seu próprio movimento para reforçar que são inclusivas sem de fato serem realmente.

A arte de ser inclusiva, excluindo

Primeiro, incorporaram o termo “curvy”. Isso mesmo. “Não sou uma marca plus size, sou uma marca curvy”. Oras, bolas, uma mulher magra pode ser curvilínea, uma atleta de corpo definido também, uma mulher que usa manequim 60 também pode ter curvas. O “curvy” foi uma furada!

Surgiu, então, a necessidade dessas marcas de se posicionarem para o público para o qual elas queriam vender, sem perder a boquinha do retorno lucrativo em marketing inclusivo. E o novo termo apareceu: “midsize”.

E de uma hora para outra, os manequins 44, 46, 48 que eram plus size (na real, plus size significa tamanho maior, tamanho grande e não tamanho gordo) passaram a ser midsize. Quem ganhou com isso? As consumidoras agora chamadas de midsize?

Não se enganem. Só as marcas lucram. Afinal, para essas lojas, ser uma marca assumidamente midsize, faz delas marcas inclusivas, que pensam nas “coitadinhas” das consumidoras que não conseguem comprar roupas nas lojas de magras das blogueirinhas.

Tá, mas e as gordas que usam acima do manequim 48? Isso já não é problema dessas marcas Midsize, não é mesmo? Para elas, nada tira seu título de inclusivas, mesmo que não incluam todo mundo. E mesmo as clientes da moda Midsize saem perdendo, porque marcas plus size que as contemplavam podem deixar de produzir para elas e focar somente nas gordas maiores.

Acordem, garotas, as marcas Midsize estão rindo de vocês. Estão rindo de suas amigas que são maiores que vocês e que continuam na busca incessante por uma roupa que lhes vista bem e represente seu estilo.

Marca inclusiva de verdade faz roupas para todas, para as curvilineas, as midisize, as gordas maiores e são definidas por um nome, um único nome: plus size.

Inclusão na moda é contemplar manequins, abraçar todos os corpos e não subdividi-los em grupos. Com essas divisões, todas nós perdemos.

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