22/11/2019 Sem categoria

O dia em que fui estrela em um clipe de funk

Era uma noite quente. Eu estava com uma insônia daquelas quando ouvi uma notificação do Facebook no meu celular. Abri meus olhinhos e fui correndo ver o que era, afinal, poderia ser um boymagia se declarando para mim e esse tipo de coisa, na minha atual situação, não se pode deixar para amanhã.

Na verdade, era outro tipo de milagre. Preta Zaros, nossa colunista do Blog Mulherão, me marcou em uma publicação em que selecionavam, com urgência e um certo desespero, uma gorda para a figuração em um clipe de funk. Preta postou: “Renata, conhece alguma gorda para indicar?”.

Eu não me candidato mais para trabalhos como modelo. Repasso todas as notícias de vagas em jobs para minhas alunas e seguidoras. Mas neste caso, meus olhinhos brilharam. Eu nunca participei de um clipe e seria muito interessante saber como funcionam os bastidores.

A garota do post do Facebook precisava de alguém que a substituísse, já que era um clipe patrocinado pela SKOL BEATS, em que menores de 25 anos, por lei, não podem participar. “Você tem mais de 25 anos?”, perguntou. “Ahãn, alguns anos a mais”, respondi. Mal sabe ela que tenho quase uma década e meia a mais.

No outro dia, uma agenciadora de casting me chamou no whatsapp e pediu que eu enviasse um vídeo meu dançando funk. Eu estava trabalhando, fazendo meus nadas de sempre, e respondi que não tinha. Ela ficou surpresa: “como assim, você não tem? manda qualquer um que você tenha aí”. E eu não sabia como explicar para ela que eu sou quase uma senhora, que embora viva da internet, sou deveras tecnofóbica. Também não costumo postar muitos vídeos meus. Quem me segue nos instagrans da vida sabe bem disso.

Acho que enrolei a moça o quanto pude. Não sabia que funk gravar dançando. Eu me sentia ridícula cada vez que ensaiava uns passinhos. Cada vez que ela me pressionava eu dizia: “fica tranquila, sou bailarina. danço pra caramba” hahahahahahahahahahhahahaha

Pera, que faltou mais um pouquinho de ha ha ha hahahahahahahahaha hahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahahah

Dizer que danço ballet e que ela não precisava se preocupar com meu desempenho no funk é a mesma coisa que um jogador de futebol falar para um treinador de vôlei não se preocupar e colocá-lo em quadra dando manchetes, porque ele arrasa nas embaixadinhas. Mas enfim, mesmo sem mandar o vídeo fui aprovada e fiquei muito feliz, embora não soubesse, naquela altura, nada sobre o trabalho.

A agenciadora me colocou em um grupo de whatsapp de figurantes e pediu que todos mandassem uma cópia de seus RGS e mencionassem a data de nascimento. Aí foi um festival de neguinho nascido em 1992, 1994… E eu lá com meus quase 38 anos, omiti a idade e mandei só o RG. Oras, era só fazer as contas.

Não que eu me envergonhe de ter 38 anos, longe disso, acho que dou um baita caldo. A questão é que os outros se importam. Julgam. A sociedade é mais velhofóbica do que gordofóbica, ao meu ver.

Descobri que de 30 figurantes só havia eu e mais uma gordinha, de 27 anos. Ela, de fato dançarina. Fiz amizade com a gordenha linda e mais um monte de gente legal. Todavia, fomos tratadas como princesas, o diretor nos colocava sempre em destaque. Percebi a preocupação com a representatividade no clipe, de uma forma natural.

Ju, a dançarina gorda de verdade

O trabalho teria duração de 12 horas, chegaríamos às 17h e sairíamos às 5h da manhã. Só lá fiquei sabendo exatamente do que se tratava o trabalho. Nem o cachê eu sabia direito. Fui na zueira. Gente, não façam isso que eu fiz, hein?! Informem-se sobre tudo antes! hahha

Em resumo, a Skol Beats acaba de lançar uma bebida chamada 150bpm, que é também o nome de uma batidade de funk mais acelerada, como esta da nova versão de Glamurosa. A bebida é um shot pequeno, bem gostosinho e muito potente, com teor alcoólico mais forte que a Skol Beats tradicional e que dá menos PT que o corote porta de cadeia que a galera jovem anda bebendo por aí hahaha. A Skol Beats patrocinou esse clipe, e a Kondzilla produziu.

https://www.youtube.com/watch?v=PpMCyw5u9dY

A gravação aconteceu em um espaço da prefeitura, na Zona Norte de São Paulo. Cheguei, linda e fofa, vestindo meu macaquinho da Maria Abacaxita e entreguei meu documento. Logo fui pra prova de roupa.

Acharam lindo meu macaquinho para a primeira parte do clipe, em que todo mundo deveria estar “apagadinho”, com uma cara mais “depressiva” e de “saco cheio”. Fiquei puta que ia usar meu macaquinho naquelas condições, mas aceitei, porque eu queria fazer uma sofrida linda hahahaha…

O macaquinho da depressão hahaha

O segundo look era da Ackon, em cores de lilás, roxo e pink. O bacana é que o produtor me perguntava se eu gostava, se estava me sentindo bonita e bem com aquele look e percebi que me deram uma atenção especial. Eu não podia ser a gordinha tombada, eu tinha que estar linda. Inclusive, em determinado momento, o diretor ressaltou que eu e outra menina magra, que estávamos na frente, deveríamos usar uma make mais elaborada. Como não amar esse tchutchuco da Kondzilla?

A foto tá uma bosta, mas os looks estão um arraso! Enxergue com seu coração hahaha

Eu amei a roupa que me sugeriram, dei graças a Deus que estava com uma saia longa, assim ninguém iria notar minhas limitações técnicas no funk, eu poderia fazer cara de paisagem, levantar os bracinhos igualzinho os gringos fazem em escola de samba. E foi assim que eu fiz.

O camarim da Tati Zaqui (a mesma do: “eu vou, eu vou, sentar agora eu vou…”) e da Tati Quebra Barraco (a do DAKO é bom) era bem separado do nosso, do outro lado do mundo, para não serem mesmo incomodadas. Eu fiquei chateada porque queria conhecer a Tati Quebra Barraco, tirar altas fotos com ela, fazer muitos vídeos no instagram aí percebi o porquê separaram ela da gente. A gente não ia deixar a mulher em paz. Fato.

Ficamos umas duas horas gravando as primeiras cenas. A minha parte era ficar em pé, com um telefone na mão, com cara de cu. Duas horas lá com cara de cu. Duas horas em pé. Sim, duas horas.

Temos que valorizar mais os figurantes, porque é bem foda.

Depois de nos trocarmos chegou a hora do funk. Tá, mas que funk? Já começou aquele desespero, principalmente porque o diretor me colocou na frente. Orei para a Nossa Senhora da Velocidade 5 do Créu me iluminar.

Quando começou a tocar GLAMUROSA, do MC Marcinho, só que na versão das Tatis, Zaqui e Barraco, 150 bpm, eu fiquei muito feliz. Era um funk antigo, da minha época, que eu conhecia. Estava segura e salva! hahaha

Eu me esforcei muito na primeira vez que a música tocou. Dancei pra caramba. Arrasei. Aí acabou pensei: “pronto, foi muito bom, o Diretor vai nos liberar, afinal foi incrível”. Inocente, né? Dançamos por mais 5 horas. Isso, 5 fucking horas. E todas aquelas horas viraram pouco mais de 3 minutos de vídeo.

Eu sentia sede, muita sede, aí tomava água. Mas aí minha barriga doía de tanta água que eu tomava, minhas costelas (que eu não sentia há uns 5 anos) doíam, sentia vontade de vomitar. Pensei: “meu Deus, vou morrer dançando funk, o Padre não vai querer rezar missa de sétimo dia para mim!”.

Os outros figurantes, dançarinos e magros, não estavam sentindo nada. Inclusive, nos breves intervalos, eles continuavam dançando. Não fazia nem cócegas para eles aquele bailão todo. Eu queria matar aqueles magros lindos e atléticos, mas continuei com cara de gordinha linda que manja bem dos quadradinhos todos da vida.

Em meio à gravação, o diretor pediu que segurássemos uma latinha de Skol BEATS 150bpm, mas não podia tomar. Como assim? Eu, a rainha dos pileques, com uma bebida nova na mão sem poder provar? Só sei que misteriosamente uma latinha de SKOL BEATS 150 bpm veio parar no meio dos meus peitos, dentro do meu sutiã. Tá aqui, vou provar, e se disserem que eu peguei sem permissão nego até a morte.

A bebidinha que apareceu sem querer no meio dos meus peitos :p

Bom, foi muito legal. Eu me senti viva como há muito tempo não me sentia. Eu me senti uma estrela, mesmo aparecendo poucos segundos no clipe. Estava com gente bonita, feliz, participando de um trabalho sério, feito com muito profissionalismo.

Cara, a Kondzilla é de um menino, cara super jovem, que veio do nada e agora tem uma surper empresa. Adorei fazer parte de 0,0001% desta história! Muito! Agora quero descobrir como participar da figuração de Sintonia, série produzida pela Kondzilla e exibida pela Netflix.

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