Artigo sobre a importância do Fashion Weekend Plus Size, gentilmente escrito por William Douglas, juiz federal, professor e escritor
Mayara Russi e Bianca Raya – as duas tops integram o casting do FWPS
Fico me perguntando como deveriam sofrer as mulheres magrinhas naquela época em que os pintores consideravam musas apenas as mulheres mais portentosas. É… os tempos mudam! Veio o tempo das modelos altas e magras, e até mesmo o das macérrimas, anoréxicas, literalmente morrendo de fome. Mas o pior da modernidade nem foi isso, mas o photoshop: esse recurso tecnológico que leva a todos os não “photoshopizados” a sensação de feiura, débito plástico e imperfeição física. Quantas pessoas não se sentiram feias na hora da nudez só porque a nudez, ou semi-nudez, da mídia não é sincera? Quantas não são as modelos e atrizes que, mesmo nuas, ou semi-nuas, estão a vestir na pele inteira o photoshop?
Devia haver uma lei proibindo o photoshop, talvez, para redimir a autoestima dos homens e mulheres que não andam nas capas das revistas.
Quantos meninos e meninas andam fazendo bobagens, ou operações, para se colocarem no formato adequado, como se a raça humana fosse assim: peças de encaixar, como ovos padronizados que precisam ficar no tamanho exato da caixa de isopor?
Num mundo tão complicado, onde a tirania da beleza esquálida e dos padrões não humanos que alguns estilistas engendraram faz tanto mal, é uma alegria ver que nem tudo está perdido. Falo do Fashion Weekend Plus Size, onde desfilarão moças lindas, livres – elas e nós – da ditadura da anorexia.
Abaixo todas as ditaduras que pretendem impor um padrão de beleza: são bonitas as altas e as baixinhas, são bonitas as claras, as negras, são bonitos todos os tipos de cabelo, todas as formas de mulher. Quem escolhe que só é bonita uma mulher alta, macérrima não entende nada de diversidade e, aposto, muito menos ainda de mulher.
Entre as maldades feitas com quem foge ao padrão de beleza propugnado há a falta de cuidado com o desenho das roupas. O problema é que aqueles que desenham as peças para pessoas plus size não parecem tão esmerados, e seguem linhas como se todas tivessem que se vestir quase com uniformes.
Além de ser um mercado numeroso e em crescimento – razões comerciais e capitalistas suficientes para levar essas pessoas a sério – creio que aprender a desenhar com estilo e graça para todas é algo que refere-se à civilidade e ao respeito à dignidade da pessoa humana.
Erra quem pensa que “direitos humanos”, “democracia”, “respeito” etc são termos meramente jurídicos e que só interessam em alguns cenários ou espaços sociais. Respeitar a diversidade e ver a beleza que há em cada uma das formas e cores de cada ser humano é um valor que se tem ou não dentro da gente. Se ele existir, vai valer em tudo, desde fazer roupas até aprovar um candidato numa seleção de emprego; se não existir, vamos continuar a discriminar pessoas tanto nas passarelas quanto nas ruas, empregos e empresas.
Por tudo, então, o Fashion Weekend Plus Size é o mais bonito dos desfiles. Bonito porque mostra gente bonita, e as magras também o são, e bonito porque mostra para todo mundo que a beleza não tem regra, peso ou altura. Assim como o feio também não.
*William Douglas é juiz federal, professor e escritor.
Paulistana, criadora do Blog Mulherão. Jornalista, escritora, cronista, consultora de moda, modelo plus size, empresária, assessora para assuntos aleatórios, mulher com “m” maiúsculo, viciada em temas pertinentes ao universo feminino. Há um bom tempo gorda. Quase sem neuras. Eu disse quase, não se iludam!
Quer trocar relatos de experiências sexuais e tirar dúvidas com outras mulheres gordas? Entre no GRUPO SECRETO DO MULHERÃO, no Facebook, com entrada permitida apenas para mulheres: Clique aqui para acessar