Por: Renata Poskus
Duvido muito que alguém, um dia, tenha acordado, olhado para o céu e dito: “cansei de ter peso considerado normal, de caber na cadeira, de não entalar na catraca do ônibus, de não ter minha capacidade subestimada por conta do meu tamanho… Vou virar obeso!”.
Conscientemente, ninguém engorda tanto. Mesmo assim, não importa o motivo, gente gorda existe, isso é fato. Nós, gordos, estamos aqui, em todos os lugares e, a todo momento, nos sentimos obrigados a justificar o nosso direito de existir. Cansa, cara. Falo com experiência de causa. Cansa mais do que esses 100 Kg que carrego sobre minhas costas.
Querem nos matar em vida: “gordo morre mais cedo”, “gordo tem mais chance de ter câncer”, “gordo tem mais chance de ter AVC”, “gordo tem mais chance de ter enfarto”… Só não nos dizem que gordo tem mais chance de ter gente no pé, enchendo o saco, até porque isso é fato comprovado, tá na cara, todo mundo enxerga muito mais do que nossas banhas.
Então, nossa reação, sempre que nos esfregam na cara o nosso atestado antecipado de óbito, é rebater com: “meus exames de saúde estão em dia”, “sou gorda, mas sou saudável”. A gente sempre se justifica mostrando o exame de colesterol, de diabetes, disso e daquilo.
A verdade é que a gente também tem o direito de ser um gordo doente. Gordo doente, preguiçoso, ocioso e mais um monte de coisa que insistentemente alguns de nós tentamos provar que não somos.
Você, gordo, não tem que se sentir culpado ou inferior por ter comorbidades, doenças, isso ou aquilo. E nem se sentir na obrigação de explicar o que tem ou não tem para quem quer que seja. Gordo não é patrimônio público. A sua condição de saúde é de foro íntimo!
Entenda, existem magros doentes. E podem existir gordos doentes também. Ninguém para um magro fumante na rua e pede para ele parar de fumar porque fumantes tem mais chances de morrer de câncer de pulmão. Não param casais magros na rua e pedem para usarem camisinha porque doenças sexualmente transmissíveis são a principal causa de câncer de colo de útero. Ninguém entra em bares sugerindo que magros parem de beber. Mas todos, absolutamente todos, se acham no direito de se meter na vida de uma pessoa gorda.
Vá há uma funerária e veja quantos caixões de gente magra existem lá para vender. A morte não é exclusividade de gente gorda.
Culpados, nos justificamos. Tentamos convencer os magros de que podemos sim viver bem e felizes por muito tempo. Mas a verdade é que o magro que te aponta o dedo sabe bem que você pode viver bem e feliz. Sabe, inclusive, que talvez ele seja menos saudável que você.
Questionar a sua saúde é apenas uma forma do magro fazer valer a sua inconveniência, se sentir superior a alguém.
Veja bem, não estou dizendo que você, pessoa gorda, deva literalmente ligar o foda-se para a sua saúde. Apenas quero que compreenda que a sua saúde é sua, que você não deve se justificar para ninguém e não deve se sentir um merda por ser gordo e ter alterações em exames rotineiros que até gente magra tem. Neste caso, você não vai preparar o teu velório, você vai fazer o que (algumas) pessoas magras fazem para melhorar: controlar a alimentação, se exercitar, se medicar com acompanhamento médico.
No mais, se alguém perguntar sobre a sua saúde, aprenda a mandar o inconveniente para a P.Q.P. Você não tem obrigação alguma de ser educado e se preocupar com os sentimentos de alguém que te faz se sentir inferior e culpado por ser quem é.
Paulistana, criadora do Blog Mulherão. Jornalista, escritora, cronista, consultora de moda, modelo plus size, empresária, assessora para assuntos aleatórios, mulher com “m” maiúsculo, viciada em temas pertinentes ao universo feminino. Há um bom tempo gorda. Quase sem neuras. Eu disse quase, não se iludam!
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