27/09/2019 Comportamento

Preta, Gorda, Mãe e 10 mil km longe de casa

Uma cor? Marrom. Também gosto de cinza. Ainda assim, costumo dizer que é amarelo… só pra aparecer animadona e ‘good vibes’.

Um crush? John Mayer. Mas porque tenho vergonha de admitir que é o Steven Tyler (galã  geriatrico, né  manas).

Gosto de séries bobas de TV, água com gás, andar descalça em tapetes, R&B dos anos 90, e apesar dos 28 anos de idade ainda tenho uma enorme dificuldade em comprar roupas e sapatos sem a opinião da minha mãe.

Sou filha de pai branco e mãe negra, e fui criada em uma casa onde racismo nunca foi um tópico pra discussão. Se isso me fez ser menos consciente de quem sou, não sei.

Cresci com os dois lados da família enaltecendo o meu cabelo e a cor da minha pele a todo momento. E admito o privilegio de poder assimilar tudo no meu próprio tempo, ao invés de ter o mundo esfregando na minha cara desde pequena.

Na familia da minha mãe eles não tiveram essa mesma sorte.

Sempre fui gorda. Desde criança.

Costumo dizer que já era gorda desde os tempos que era magra, mas nunca deixei meu peso ditar a maneira como eu me via. Ao contrario! Aos 15 anos eu me achava a mais gostosa do rolê, com meu cabelo milimetricamente desarrumado e decotes inapropriados.

Apesar de ser sempre uma das maiores meninas da sala durante a minha infância e adolescência (e que me lembre, também na faculdade), nunca sofri bullying por isso.

Até hoje me questiono o motivo, já que meninas com o corpo parecido com o meu costumavam tirar um dobrado com as outras crianças.

Criei a consciência de que todo e qualquer problema de auto estima que ocasionalmente me pegava, vinha da minha própria cabeça.

Preta

A constatação da minha gordura, vindo da boca de pessoas desconhecidas, não é algo que me preocupa. Pelo menos, não na grandesíssima maioria das vezes.

Como todo mundo, é claro que tem dias em que eu acordo me sentindo um cocôzão, mas já aprendi a não me deixar abalar demais.

Desde que me mudei pra Washington, em 2017, minha vida mudou completamente.

Antes eu morava numa casa onde amigos estavam sempre entrando e saindo. Musica alta, churrasco, barzinho nos finais de semana.

Hoje passo meus dias praticamente sozinha, correndo atrás de um bebê que ama escalar, e de pets que parecem acreditar que a única chance de sobrevivência é estar, SEMPRE, a poucos metros das minhas pernas.

Não estou reclamando. Gosto do silêncio. Mas quando você está acostumada com pessoas ao seu redor o tempo todo, morar praticamente no meio do mato é FODA.

A maternidade, definitivamente, tem sido o maior desafio em estar longe de casa. Cuidar de um bebê em um lugar novo, sem familia e amigos por perto,  faz tudo ter um peso ainda maior.

Ben

Mesmo ele sendo o bebê mais maneiro do mundo, eu estaria mentindo se dissesse que não choro quase todo dia. (Se bem que sempre fui do tipo que chora até com comercial da Coca Cola. Deixo as mocinhas das novelas mexicanas no chinelo.)

Mandar vídeos e fotos no grupo da familia ajuda, mas não vou negar que me pego pensando TODO DIA como seria se tivesse minha mãe pra ajudar com a dor do nascimento dos dentinhos e o meu pai pra ficar com ele nas manhãs de sábado.

Se eu tivesse eles por perto, tudo seria TÃO MAIS FÁCIL.

Nasci no interior de São Paulo e sempre me considerei bem caipira, mas bem caipira mesmo.

Gosto de conhecer os vizinhos, de chegar nos lugares em 10 minutos e ter amigos em comum por todo lugar que vou.

Fico nervosa em cidade grande. O barulho me tira o foco e trânsito me ataca a labirintite.

Então imagine o ‘cagaço’ quando percebi que, pro meu marido, morar no Brasil não era uma opção.

Nunca sonhei em me casar. Casei depois de cinco meses de noivado de um namoro curtíssimo, que já relatei aqui no Blog Mulherão.

Família Zaros Tusing

Nunca sonhei em morar nos Estados Unidos. E cá estou, reclamando com a minha sogra, que o meu supermercado preferido decidiu reorganizar DO NADA os produtos nas prateleiras.

A primeira vez que vi um esquilo eu chorei (drama mexicano, lembram?). Hoje eu fico puta com a bagunça que eles fazem no comedouro dos passarinhos.

Se aos 15 anos alguém me dissesse como minha vida seria hoje aos 28 anos, eu gargalharia bem alto, jogaria o meu cabelo todo pro lado, e sairia rebolando a  bundona (na época ainda não tão grande quanto hoje), bem exibida e debochada.

Oh Deus, que saudades do meu eu debochada!

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