Preparada para sair da matrix? Essa é a proposta da Redpill, grupos na internet formados por homens que prometem se ajudar em várias áreas, inclusive na difícil arte das relações amorosas.
O termo “Redpill”, cuja tradução é pílula vermelha, é uma referência ao filme Matrix das irmãs Wachowski. No filme, quando o personagem Morpheus oferece a Neo, a escolha de ingerir a pílula azul e seguir vivendo em ilusões, ou engolir a pílula vermelha e encarar a realidade se tornando um homem desperto.
Desperto é como se denominam os homens da comunidade Redpill. Logo, não é errado dizer que se enxergam mais esclarecidos e espertos que as outras pessoas, as chamadas “Bluepill”, que são os residentes da Matrix que optaram por engolir as mentiras da pílula azul.
A Redpill é parte da machosphera, um universo que como o nome diz é voltado essencialmente para homens que buscam valorizar a masculinidade, se empoderar e se proteger. Mas não apenas isso, propaga ódio contra grupos e em especial contra as mulheres.
No que diz respeito aos relacionamentos, existe uma insatisfação no meio Redpill com os papéis e relações modernas. A audiência é formada principalmente por: homens que passaram ou que estão passando por problemas em relacionamentos e ainda aqueles que têm dificuldades para se relacionar com mulheres. Isso os faz nutrir um profundo ressentimento.
Claramente uma parte desses homens sente saudades de uma época em que mulheres eram mais dependentes e, por isso, escolhiam e exigiam menos de seus companheiros. Os integrantes da comunidade chegam a achar revoltante uma mulher ter critérios como: aparência, química, afinidades ou, ainda, ter prioridades diferentes na vida que não incluam encontrar um príncipe encantado – e esse seria um deles.
Em essência, estamos fazendo o que os homens sempre fizeram, porém a nosso modo. São homens que constantemente reclamam de insegurança financeira e jurídica, além da falta de passividade e submissão feminina, querendo se opor a nossa liderança e papel dominante que tantas de nós desempenham, e se impor para aplacar suas frustrações.
Mas será que existem pensamentos abertamente misóginos dentro da bolha da Redpill brasileira? Para responder, listei argumentos comuns na comunidade relacionados a mulheres e o que é esperado de nós.
Não é exagero dizer que para esses homens, mães solo são uma verdadeira bomba relógio. E não é falta de afinidade com crianças, é pavor e desprezo profundo mesmo.
Para eles a “msol” – assim são chamadas na comunidade -, representa um risco iminente. Afinal, eles pensam que mães solo, com certeza farão com que assumam o papel de pai e sustentem os seus filhos, e caso não queiram, o Estado irá forçar uma paternidade socioafetiva.
Acrescente a isso o medo e ciúmes que eles sentem do ex, o jeito preconceituoso com que trata seus filhos e a incapacidade de se relacionar de forma saudável que atribuem a você.
Nessas comunidades são comuns pensamentos como: qual razão de ser mãe e solteira? Será que ela sabe quem é o pai? O que tem de errado com ela que não teve capacidade para segurar um homem?
Alguns optam pela distância total, já outros nos classificam apenas para relações casuais sem qualquer possibilidade de passar do terceiro encontro e nos relegam a categoria de descartáveis, úteis apenas para “gozar e sumir”.
Já ouviu falar em hipergamia? Hipergamia é basicamente quando uma mulher se recusa a se relacionar com homens de nível social inferior ao seu. Sabe aquele ditado: “Mulher não gosta de homem, mulher gosta de dinheiro”?
Então, segundo a Redpill, todas as mulheres são hipergâmicas e nossa biologia nos fez assim para selecionar o homem que traga mais segurança. Então, caso seu marido não tenha mais dinheiro que você, seria essa uma falha na Matrix?
“Homens de sucesso abrem portas, mulheres de sucesso fecham portas”. Com esse pensamento comum na comunidade, entenda que quanto mais você estude, trabalhe e se desenvolva, mais difícil será encontrar um homem. Afinal você estará mais velha, logo em queda na sua beleza e fertilidade e mais exigente graças à hipergamia.
Por isso, eles consideram mais sensato que você não estude demais, não ganhe muito, não foque na carreira. Seus diplomas e sucesso profissional não tem valor algum para eles e, entre estabilidade financeira e um homem, segundo a Redpill, a mulher inteligente opta pelo homem.
Assim como a hipergamia faz parte da mulher, segundo a Redpill somos incapazes de nos contentar e ter estabilidade emocional. Estamos sempre infelizes e isso nos fará sabotar relações e exigir demais do homem, fazendo dele uma vítima de nossa eterna insatisfação.
Por isso, é esperado que se existir oportunidade você faça o que chamam de “monkey branching” e ameace ou troque o seu marido por um homem que considere melhor.
Caso não tenha feito isso ainda, ou você foi domada pelo alfa ou foi falta de oportunidade. Sim, eles acreditam nisso.
Segundo a Redpill, homens só são fiéis às oportunidades que têm, logo se o seu namorado ou marido não te trai é porque não teve a chance.E se você é do tipo que diz aos quatro cantos que não aceita traição, ou seu companheiro é um beta e prêmio de consolação para você, ou está mentindo para si mesma.
Segundo a Redpill, o homem alfa tende a ser dominante, atraente e interessante e por isso você terá medo de perdê-lo. E, mesmo que ele te traia, você vai aceitar e até faz sentido que aceite.
Afinal, segundo esses homens, assim como somos hipergâmicas, o homem é poligamico e sua natureza é ‘semear a semente’ sem respeito ou consideração por você.
Para eles, que vençam os instintos primitivos e cabe a você lutar pelo alfa. Particularmente, só de pensar em competir por um homem me canso e prefiro assistir Netflix.
Nas comunidades Redpill são compartilhadas pesquisas que apontam que divórcios aumentaram e são as mulheres que costumam dar entrada. As razões são atribuídas à eterna insatisfação feminina, que hipergâmica e inescrupulosa troca o marido por um modelo melhor, ou para obter ganhos financeiros.
Afinal, para eles é que o divórcio tende a favorecer a mulher. Na lógica da Redpill, as mulheres sempre se casam com homens ricos, em comunhão total de bens e ainda embolsa uma gorda pensão.
Segundo eles:” nós entramos com nada e saímos com metade de tudo”. Parece um super negócio, não é mesmo?
Claro que ignoram todos os relacionamentos onde o regime é de separação de bens, ou que a mulher também contribui financeiramente para a família. Além de outras motivações para encerrar um casamento que não envolvem ganância.
Quantos parceiros sexuais você já teve? Tenha em mente a resposta se for sair com um homem da Redpill. Ele vai querer saber e irá multiplicar por 3 o que você disser.
A comunidade possui aversão às mulheres com vida sexual ativa, inclusive chegam a deduzir, com seriedade, que uma mulher comum, que trabalha e tem compromissos, facilmente se relaciona sexualmente com 100 homens por ano. Afinal, não precisamos fazer ou ser nada, basta existir.
Mas o incômodo com a sexualidade feminina tem uma lógica para eles, a mulher com alguns parceiros no currículo é incapaz de se conectar com um homem só. Portanto, tende a ser adúltera, ou infeliz comparando constantemente seu parceiro e desejando pedaços dos homens com quem esteve. Em uma ilustraçãoo: você fará um Frankenstein, em busca do sexo de um, o dinheiro do outro, o físico do terceiro, o rosto do quarto, a voz do quinto… Bem filme de terror.
Você se considera uma mulher inteligente, articulada e interessante? São qualidades preciosas para uma pessoa se relacionar, não acha? Mas não em mulheres, isso segundo a Redpill. Seu valor para envolvimento amoroso é baseado na sua aparência e fertilidade, – e se for uma virgem, melhor ainda.
Então, caso você não seja uma modelo ou miss, baixe a bola. Afinal, você não é uma ‘’10/10”. É apenas uma ‘mediana’, segundo esses homens. E, se passou dos 30 anos solteira, os Redpill apontam sistematicamente que você é uma senhora e que não é apta para um relacionamento. Afinal, como vai competir com as universitárias de 19 anos?
Mas, você quer competir? Para os homens da Red, você quer e por isso chora no banho todas as noites enquanto passa os dias sobrevivendo a base de medicação e fingindo que é uma pessoa funcional.
Enfim, essas são algumas das muitas pérolas dessa comunidade que podem ser consideradas misóginas e, obviamente, não refletem a nossa opinião.
Paulistana, criadora do Blog Mulherão. Jornalista, escritora, cronista, consultora de moda, modelo plus size, empresária, assessora para assuntos aleatórios, mulher com “m” maiúsculo, viciada em temas pertinentes ao universo feminino. Há um bom tempo gorda. Quase sem neuras. Eu disse quase, não se iludam!
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