Nos últimos 14 anos da minha vida, minha rotina principal foi usar o Blog Mulherão como um instrumento de transformação para outras mulheres.
Eu sempre estive lá, gloriosa e orgulhosa do meu corpo e da minha beleza. No meu mundo, eu era linda e não havia nada em mim que devesse ser mudado. E todas as minhas frases esbanjando autoestima não eram da boca pra fora. Eu vivia exatamente o que eu falava, não se tratava de marketing barato.
Com isso, fui arrebatando seguidoras e tendo o privilégio de testemunhar a transformação de várias mulheres que, como eu, passaram a se achar maravilhosas.
E quanto mais essas mulheres desabrochavam, mais eu me fortalecia.
Outros podiam me xingar, atacar, criticar o meu corpo e eu continuava lá, radiante. Orgulhosa de cada gordurinha, de cada nova ruga ou cabelo branco surgindo. Inabalável. Um verdadeiro Mulherão.
Não sei ao certo quando a minha visão sobre mim mesma começou a mudar. Talvez, a depressão avassaladora que me tomou nos últimos anos e da qual eu não consegui mais sair, tenha me trazido também um olhar menos generoso sobre mim mesma.
O primeiro estágio da depressão foi não ter forças para mais nada. O segundo foi não querer mais ser quem sou. E não há nada mais triste quando desistimos de nós mesmas.
Completamente afetada pela crise financeira por conta da pandemia de Covid, enclausurei-me. Sentia aquela necessidade de continuar sendo um exemplo, mas ao mesmo tempo, não tinha forças nem para mim, quanto menos para os outros.
O telefone já não tocava e a minha ausência das redes sociais passou despercebida. Pouco a pouco, tornei-me dispensável. Sinceramente, talvez eu sempre fora dispensável, pequena, mas ignorava. Por ego. Por fé em mim mesma. Ou simplesmente por não me importar. Não sei.
Meses viraram anos e, quando finalmente tive a necessidade de voltar a trabalhar, a produzir, lá estava eu já muito longe de quem um dia fui. Não tinha garra, confiança nem em minha capacidade profissional e nem na minha casca.
Todo dia acordava triste por ainda estar viva. Triste por ser quem sou. Triste por uma vida vazia, triste por enxergar um mundo todo cinza.
Os cabelos agora bem grisalhos, as rugas bem profundas, a flacidez quase inevitável de quem já passou dos 40 anos, as orelhas profundas permanentes, o cabelo ralo, o rosto cansado, a pele sem vida, o sorriso amarelo de tanto refrigerante e nicotina.
Sem ânimo, sem ideias, sem garra, sem felicidade, sem bom-humor, sem esperança.
Quem sou eu? Esta sou eu? Esta minha nova versão me acompanhará até a morte?
Sinto-me constantemente um lixo e, às vezes, me pego proferindo essa frase bem baixinho, sem nem perceber: “sou um lixo”, “sou um lixo”, em um looping infinito.
Não consigo me relacionar emocionalmente e sexualmente com ninguém. Sim, acreditem. Aquela mulher que não passava 1 semana sem sexo, agora foge de qualquer contato íntimo. Se não me amo, como posso amar alguém? Que tipo de relacionamento eu teria nessas condições?
Como sempre expus minhas conquistas profissionais e pessoais, tornando o meu amor próprio como um exemplo a ser seguido, considerei justo com vocês dividir também como estou agora. Talvez até no meu mau exemplo possa existir uma lição. Se não para os outros, para mim.
Talvez também seja um pedido de socorro para vocês, ou um pedido de socorro que faço para mim mesma. Um apelo desesperado para que eu volte a sorrir, que eu volte a achar graça da vida, que volte a ver poesia em minha aparência, em minha alma e em meu coração.
Quero recuperar o orgulho de mim mesma, mas não sei como.
Eu, que tanto me coloquei na posição de ensinar mulheres, hoje peço que me ensinem: como saio dessa? Como? Como dar o primeiro passo?
Paulistana, criadora do Blog Mulherão. Jornalista, escritora, cronista, consultora de moda, modelo plus size, empresária, assessora para assuntos aleatórios, mulher com “m” maiúsculo, viciada em temas pertinentes ao universo feminino. Há um bom tempo gorda. Quase sem neuras. Eu disse quase, não se iludam!
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