Dia 18 de junho, acontece a Babadó – Mostra de Cultura LGBTQIA+ da Freguesia do Ó. Uma das atrações é a oficina LGBalleT+ da multiartista Brunessa Lopez: travesti, preta e gorda. Brunessa poderia ser só mais uma arte-educadora, mas sua competência artística, história de vida e inúmeras superações fazem dela uma grande inspiração.
Brunessa faz questão de se autointitular “Travesti”. Quando indagada sobre o porquê de preferir ser chamada de Travesti e não Mulher Trans, ela responde:
“Antigamente, eram chamadas de trans as mulheres que faziam a redesignação de sexo. As travestis eram as marginalizadas, pobres, da periferia. Hoje, não é mais necessária a cirurgia para que uma mulher seja considerada trans, mas decidi continuar me apresentando como travesti. Ser travesti é um ato político, uma forma de mostrar para mulheres trans marginalizadas que elas merecem respeito. Quero servir de inspiração”.
E é mesmo uma grande inspiração. Brunessa cresceu na periferia, precisamente no bairro de Capão Redondo. Foi abandonada pela mãe e criada pelo pai e avó. A princípio, era um menino gordo, que sofria bullying na escola, até o dia que começou a reagir às provocações.
“Tive que cantar inúmera vezes Gordo, baleia, saco de areia com a turma , fingindo que não me importava, para cessar o bullying”.
Para completar, as crianças a identificavam como gay, mas a verdade é que nem mesmo Brunessa sabia como se identificar.
“Eu odiava usar as roupas masculinas que meu pai comprava, mas não tinha opção. Naquela época, não existia a propagação do conceito não-binário. Mas, olhando para o passado, é assim que eu me identificava. Nem como menino, nem como menina.”
Na adolescência, passou a se vestir como mulher em festas e ocasiões especiais, longe do olhar de censura da família. Sentia-se realizada:
“Quando me vestia de menino, eu ficava envergonhada, de cabeça baixa, me escondia. Mas quando estava com roupas femininas é que eu conseguia me sentir eu mesma. Aquela era eu, a Brunessa”.
Após ser expulsa da casa da avó pelo pai, que não aceitava a nova apresentação da filha, Brunessa precisou ir morar sozinha, sem dinheiro e sem estrutura.
“Eu confesso, não me envergonho, eu precisei fazer programas para poder comer”
Ela percebia que o preço a se pagar para ser ela mesma era caro demais. Solidão, fome, tristeza. Voltar para a casa da avó também não era uma opção. Foi após uma desilusão amorosa que Brunessa entrou em depressão profunda e ficou incomunicável em sua casa, sem se alimentar. Preocupada, a avó foi visitá-la.
“Ela disse que estava comigo para o que der e vier.”
Hoje, o pai e a avó a aceitam, embora ainda tenham dificuldade de chamá-la pelo pronome correto. O acolhimento, a estrutura familar e a delícia de ser quem é, permitiu que Brunessa trabalhasse formalmente e pudesse estudar para se tornar o que é hoje: artista, dançarina, performer. Uma Drag Queen admirada!
No dia 18 de junho, Brunessa vai comandar uma oficina de dança na BABADÓ, gratuita. Todos podem participar, com passos fáceis de acompanhar e ao som das grandes divas do pop.
BABADÓ – MOSTRA DE CULTURA LGBTQIA+ DA FREGUESIA DO Ó
18 DE JUNHO
CASA DE CULTURA MUNICIPAL DA FREGUESIA DO Ó
DAS 10H ÀS 21H
ENTRADA GRÁTIS
Babadó é um projeto aprovado pelo PROAC, do Governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Cultura e Economia Criativa. Com apoio da Secretaria de Cultura Municipal e produção de Renata Poskus.
Gostou? Participe também da oficina de modelos LGBTQIA+
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Paulistana, criadora do Blog Mulherão. Jornalista, escritora, cronista, consultora de moda, modelo plus size, empresária, assessora para assuntos aleatórios, mulher com “m” maiúsculo, viciada em temas pertinentes ao universo feminino. Há um bom tempo gorda. Quase sem neuras. Eu disse quase, não se iludam!
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